Por um dia gostava de não pensar nas consequências, no porquê, no como, no quando. Por uma vez gostava de fazer, só.
Toca o telefone.
Apesar do meu querer, não és tu. Mas não passa disso, de querer. Provavelmente mal sabes disso também. Mal me conheces e mal te conheço - mal nos conhecemos. Mas também não te culpo, eu mal me dou a conhecer.
São quase duas da manhã e apetece-me telefonar-te ao mesmo tempo que me apetece escrever-te sem te escrever. Nunca o fiz, apesar da minha vontade ter sido suscitada várias vezes. É normal - diria eu numa outra qualquer noite. Mas não é normal. Não é. Qualquer outra pessoa cede à sua vontade e faz o que bem lhe apetece. É a lei natural das coisas. Se não fizessemos o que queriamos provavelmente estaria tudo como eu - sempre a pensar "Por que é que não fiz? Por que é que não disse?". Muitas são as vezes que me faço tais perguntas, nenhuma a vez que encontro resposta, pelo menos uma que seja válida e não apenas uma desculpa para não querer dizer que apenas segui o caminho mais fácil.
Toca o telefone.
Outra vez não és tu. Já não queres saber e não te culpo - até eu já estou cansada de mim. E este cansaço infecundo gera o mesmo caminho infecundo de sempre, cujo trajecto é o mais infecundo - o mais fácil. Mas eu não quero seguir esse caminho, apenas o sigo por habituação, por defesa, por cuidado ou precaução. Por desconfiança. De mim mesma que não sei, ou dos outros de quem nunca nada saberei.
Por um dia gostava de não pensar nas consequências, no porquê, no como, no quando. Por uma vez gostava de fazer, só. De ser, só.
Por um dia gostava de não pensar nas consequências, no porquê, no como, no quando. Por uma vez gostava de fazer, só. De ser, só.
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